JOGO PARA
VYGOTSKI, PIAGET E WALLON
PIAGET
Para Piaget (1978) as origens das
manifestações lúdicas acompanham o desenvolvimento da inteligência
vinculando-se aos estágios do desenvolvimento cognitivo. Cada etapa do
desenvolvimento está relacionada a um tipo de atividade lúdica que se sucede da
mesma maneira para todos os indivíduos.
a) O jogo de exercício
Representa a forma inicial do jogo na criança
e caracteriza o período sensório-motor do desenvolvimento cognitivo.
Manifesta-se na faixa etária de zero a dois anos e acompanha o ser humano
durante toda a sua existência — da infância à idade adulta. A característica
principal do jogo de exercício é a repetição de movimentos e ações que
exercitam as funções tais como andar, correr, saltar e outras pelo simples prazer
funcional.
b) O jogo
simbólico
Tem início com o aparecimento da função
simbólica, no final do segundo ano de vida, quando a criança entra na etapa
pré-operatória do desenvolvimento cognitivo. Um dos marcos da função simbólica
é a habilidade de estabelecer a diferença entre alguma coisa usada como símbolo
e o que ela representa seu significado.
c) O jogo de
regras
Constituem-se os jogos do ser socializado e
se manifestam quando, por volta dos 4 anos, acontece um declínio nos jogos
simbólicos e a criança começa a se interessar pelas regras. Desenvolvem-se por
volta dos 7/11 anos, caracterizando o estágio operatório-concreto.
WALLON
Para Wallon, o fator mais
importante para a formação da personalidade não é o meio físico, mas sim o
social. O autor chama a atenção para o aspecto emocional, afetivo e sensível do
ser humano e elege a afetividade, intimamente fundida com a motricidade, como
desencadeadora da ação e do desenvolvimento da ação e do desenvolvimento
psicológico da criança.
Para o autor, a personalidade humana é um
processo de construção progressiva, onde se realiza a integração de duas
funções principais:
- A afetividade, vinculada à sensibilidade
interna e orientada pelo social;
- A inteligência, vinculada às sensibilidades
externas, orientada para o mundo físico, para a construção do objeto.
Wallon enfoca a motricidade no
desenvolvimento da criança, ressaltando o papel que as aquisições motoras
desempenham progressivamente para o desenvolvimento individual. Segundo ele, é
pelo corpo e pela sua projeção motora que a criança estabelece a primeira
comunicação (diálogo tônico) com o meio, apoio fundamental do desenvolvimento
da linguagem. É a incessante ligação da motricidade com as emoções, que prepara
a gênese das representações que, simultaneamente, precede a construção da ação,
na medida em que significa um investimento, em relação ao mundo exterior.
Na concepção de Wallon, infantil é
sinônimo de lúdico. Toda atividade da criança é lúdica, no sentido que se
exerce por si mesma antes de poder integrar-se em um projeto de ação mais
extensivo que a subordine e transforme em meio.
Deste modo, ao postular a natureza livre do
jogo, Wallon o define como uma atividade voluntária da criança. Se imposta,
deixa de ser jogo; é trabalho ou ensino.
Wallon, ao classificar os
jogos infantis, apresenta quatro categorias:
a) Jogos funcionais
Caracterizam-se por movimentos simples de
exploração do corpo, através dos sentidos. A criança descobre o prazer de
executar as funções que a evolução da motricidade lhe possibilita e sente
necessidade de pôr em ação as novas aquisições, tais como: os sons, quando ela
grita, a exploração dos objetos, o movimento do seu corpo. Esta atividade
lúdica identifica-se com a “lei do efeito”. Quando a criança percebe os efeitos
agradáveis e interessantes obtidos nas suas ações gestuais, sua tendência é
procurar o prazer repetindo suas ações.
b) Jogos de ficção
Atividades lúdicas caracterizadas pela ênfase
no faz-de-conta, na presença da situação imaginária. Ela surge com o
aparecimento da representação e a criança assume papéis presentes no seu
contexto social, brincando de “imitar adultos”, “casinha”, “escolinha”, etc.
c) Jogos de aquisição
Desde que o bebê, “todo olhos, todo ouvidos”,
como descreve Wallon, se empenha para compreender, conhecer, imitar canções,
gestos, sons, imagens e histórias, começam os jogos de aquisição.
d) Jogos de fabricação
São jogos onde a criança se entretém com
atividades manuais de criar, combinar, juntar e transformar objetos. Os jogos
de fabricação são quase sempre as causas ou consequências do jogo de ficção, ou
se confundem num só. Quando a criança cria e improvisa o seu brinquedo: a
boneca, os animais que podem ser modelados, isto é, transforma matéria real em
objetos dotados de vida fictícia.
VYGOTSKY
A partir de suas investigações sobre o
desenvolvimento dos processos superiores do ser humano, Vygotsky apresenta
estudos sobre o papel psicológico do jogo para o desenvolvimento da criança.
O autor enfatiza a importância de se
investigar as necessidades, motivações e tendências que as crianças manifestam
e como se satisfazem nos jogos, a fim de compreendermos os avanços nos
diferentes estágios de seu desenvolvimento.
Caracterizando o brincar da criança como
imaginação em ação, Vygotski elege a situação imaginária como um dos elementos
fundamentais das brincadeiras e jogos.
Segundo Vygotsky, o brinquedo que comporta
uma situação imaginária também comporta uma regra relacionada com o que está
sendo representado. Assim, quando a criança brinca de médico, busca agir de
modo muito próximo daquele que ela observou nos médicos do contexto real. A
criança cria e se submete às regras do jogo ao representar diferentes papéis.
Para Vygotsky, a brincadeira se configura
como uma situação privilegiada de aprendizagem infantil, à medida que fornece
uma estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência.
Outro aspecto evidenciado pelo estudioso é o
papel essencial da imitação na brincadeira, na medida em que, inicialmente, a
criança faz aquilo que ela viu o outro fazer, mesmo sem ter clareza do
significado da ação. À proporção que deixa de repetir por imitação, passa a
realizar a atividade conscientemente, criando novas possibilidades e
combinações. Dessa forma, a imitação não é considerada uma atividade mecânica
ou de simples cópia de modelo, uma vez que ao realizá-la, a criança está
construindo, em nível individual, o que nos observaram outros.
É, portanto, na situação de brincar que as
crianças se colocam questões e desafios além de seu comportamento diário,
levantando hipóteses, na tentativa de compreender os problemas que lhes são
propostos pela realidade na qual interagem. Assim, ao brincarem, constroem a
consciência da realidade e, ao mesmo tempo, vivenciam a possibilidade de
transformá-la.
Fazendo referência à característica de
prazer, presente nas brincadeiras, Vygotsky afirma que nem sempre há satisfação
nos jogos, e que quando estes têm resultado desfavorável, ocorre desprazer e
frustração.
Equipe: Ana Paula, Gislaine Petris, Maristela e Morgana